sábado, 18 de abril de 2009

"Virgens" fica em segundo lugar em Manaus

Nas margens do grande rio...
o elenco de "As Virgens de Cantagalo"


E o número de virgens só aumenta. Agora são quatro, e navegam pelo Amazonas. Gessica Lima, Mayara Della Carmo, Daura Caroline e Aline Guedes foram dirigidas pelo ator Zeudi Souza, de Manaus, em "As Virgens de Cantagalo", uma versão (autorizada) da peça curta cômica "Virgens à Deriva", de Ruy Jobim Neto. "Virgens" ficou em segundo lugar no Festival Breves Cenas, que aconteceu em março.

O Festival foi realizado pela Cia. Cacos de Teatro em parceria com a Cia. ArtBrasil, e promoveu a apresentação de dez espetáculos curtos – com 10 a 20 minutos de duração – em competição no Teatro Américo Alvarez, além de debates e oficinas de teatro.

Formado por Marcélia Cartaxo, Aurora de Moura e Fernando Mencarelli, o júri do Breves Cenas concedeu o principal prêmio do festival a “Boxe com palhaçada”, uma esquete baseada na arte do clown. Em segundo lugar, ficou “As virgens de Canta Galo”, do grupo Arte’Nativa, com direção de Zeudi Souza e elenco formado por Aline Guedes, Daura Caroline, Mayara DellaCarmo e Gessica Lima. “Pai e filho a respeito da guerra”, da Cia. Língua de Trapo, foi premiada em terceiro lugar.

Todos os artistas e grupos premiados receberam o troféu Breves Cenas – criação do artista plástico manauense Ericky Nakanomy.

No site oficial do Festival está a listagem dos vencedores.

A peça original, "Virgens à Deriva", estreou em 24 de março de 2007, no Espaço dos Parlapatões, em São Paulo, sob co-direção de Ruy Jobim Neto e Vanessa Morelli, pela Cia. 011, tendo no elenco as seguintes virgens: Vanessa Morelli, Débora Aoni e Fernanda Sophia. A música original era de Gerson Grünblatt, interpretada ao vivo pelo compositor.

Depois a peça foi montada em Santo Angelo, no Rio Grande do Sul (sob direção de Juliani Borchardt), em Caicó, no Ceará e também na cidade de Porto de Mós, em Portugal, pelo Grupo Trupêgo, sob direção de António Almeida, em dezembro de 2008.

E elas continuam remando...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cão Jarbas completa 20 anos

Jarbas e sua turma: 20 anos de quintal

Data estelar de quintal: 1 de abril de 1989. Acabara de chegar pelo correio o envelope da Biblioteca Nacional com esta data corrente, mostrando que o Cão Jarbas tinha certidão de nascimento. Na verdade, ele nasceu pouco antes. E veio ao papel sem que dele fosse pedido o papel de protagonista nas tirinhas “Nós... E Eles”, que pertencia ao pai da família, chamado Jorge. Quando os personagens da tira foram criados (e eles podem ser vistos tanto neste blog quanto num verbete do Wikipedia), não foi imaginado que o cão da família tomasse as frentes, graças ao seu carisma... E tomasse, assim, o próprio título da série de tiras cômicas, que ficaram sendo “Jarbas”, em razão disso. A idéia era que o pai protagonizasse a tira, tal como acontece com as produções de Hanna-BarberaOs Flintstones” e “Os Jetsons”. A tira completa, portanto, seus 20 anos (e ainda sendo publicada, no jornal “GrapHiQ”, de Mario Latino, mensalmente, e nas edições que ainda saem, pelas bancas de jornal Brasil afora, da revista de passatempos “Brincadeiras do Jarbas”, que completou 10 anos em novembro de 2006).

Jarbas: viagens ao Timor-Leste, via e-mail

Mas o humor era outro, tinha outras influências (ora de Mort Walker, em “Recruta Zero”, ora de Dik Browne, de “Hägar – O Horrível”). Alguns poderiam dizer que há claras alusões a Garfield ou ao Snoopy, em “Jarbas”, o que seria natural, em se tratando de uma “animal strip”. A verdade é que quando Jarbas e sua turma surgiram, as tiras estavam no auge. Autores brasileiros se consagravam em páginas de jornal (leia-se: Laerte, Angeli, Fernando Gonzales, Glauco), em plena década de 80. O Curso de Cinema na USP estava terminando e a biblioteca da ECA (Escola de Comunicações e Artes) assinava coleção do jornal “The Washington Post”. Havia leitura de quadrinhos, o vídeo ainda não tinha dominado totalmente, a “Chiclete com Banana” havia sido um sucesso imbatível no biênio 1984-1985. E não havia a internet. Havia respiro. E leitores possíveis.

um dos exemplares de "Brincadeiras do Jarbas" (em 2001)

De Mort Walker e seus soldados do Quartel Swampy, “Jarbas” herdou o humor seco, em que era realmente preciso ler os balões para complementar a comédia. O mesmo acontecia com Dik Browne e sua família viking, de uma Idade Média tão presente em todos nós. A idéia era que “Jarbas” tivesse um representante de cada animal doméstico (cão, gato e passarinho) e que os humanos tivessem todas as faixas etárias (o casal, a garota adolescente e o menino, seu irmãozinho), e que seguindo as idéias do revolucionário “Para Ler o Pato Donald” (de Ariel Dorfmann e Armand Mattelart), houvesse realmente sexo envolvendo as procriações de personagens. Pais produziram filhos, o contrário do que acontecia com a família de patos de Disney. Jarbas tinha sido pensado para o licensing (o licenciamento de marcas) desde o ovo.

"Jarbas Baby": um projeto a cumprir

Naquela época, os syndicates precisavam distinguir o formato, se havia cor, qual era a periodicidade, o título, o autor, enfim, toda uma jogada de marketing que envolvia milhões de dólares todos os anos. Esses syndicates são grandes escritórios que revendem tiras cômicas, colunas semanais sobre os mais diversos temas, horóscopos, palavras cruzadas, jogos de bridge e sudoku para jornais no mundo todo. O primeiro e maior deles, de 1912, é a King Features Syndicate (não por acaso, a mesma que distribui “Recruta Zero”, “Hägar” e tantas outras tiras famosas), que foi fundado pelo magnata William Randolph Hearst. Não deixam de ser agências noticiosas, como a United Press International (UPI), France Presse ou a Reuters, só que especializadas em outro tipo de material (os chamados "features"), que não a notícia simples e pura. Aqui no Brasil tínhamos, naquela época, a agência Pacatatu (de Rick Goodwin) e a Agência Funarte (que não durou muito).

a versão 3D de Jarbas, por Ricardo Meneghello Guedes

Eram mais de 90 tiras diárias (sem repetir um título sequer), de segunda a sábado. O jornal americano “The Washington Post”, suas edições diárias e principalmente seus dois cadernos standards dominicais foram peças-chave na criação de “Jarbas” e sua turma. Da mesma forma como eram lidos os suplementos “Folhinha de S. Paulo”, “Globinho Supercolorido” e o de quadrinhos do Jornal do Brasil toda semana, em finais da década de 1970, havia um sonho premente de fazer exatamente aquilo, rigorosamente aquilo: tiras para jornal. Jarbas nasceu nos corredores e nas caminhadas entre as prateleiras da Biblioteca da ECA-USP, ganhando vida durante as aulas noturnas do Dorinho, enquanto os alunos dele assistiam à aula no CRP (Depto. de Propaganda e Relações Públicas da ECA), a mesa de luz era utilizada para a execução daquelas tiras, em 1989. Com as retículas inglesas da Pantone, e muito dedo cortado com estilete.

"Na Tigela com Jarbas", de 2002: oito meses de execução

Afinal, em abril de 1993, as tiras de Jarbas são publicadas pela primeira vez em pequenos jornais do Litoral de São Paulo (“Primeira Cidade”, “Jornal de Bertioga”, “Gazeta de Praia Grande”), mas nunca alcançou as páginas dos grandes jornais. Era novembro de 1996, quando saíram os primeiros exemplares da revista “Brincadeiras do Jarbas”, com passatempos do personagem e as tiras cômicas que foram coletadas depois no volume “Na Tigela com Jarbas”, livro lançado em 2002. As revistinhas chegaram a todos os pontos do território nacional via distribuição da DINAP, e quem primeiro confiou nelas foram os editores Fábio e João Carlos Bentivegna.


uma tirinha de "Jarbas Baby", inédita

O livro lançado, com apresentação do Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro, do Núcleo de Pesquisas de HQ da ECA-USP, as livrarias e seus sites começariam a ver a obra (quase) completa, uma vez que o volume de 112 páginas continha mais de 300 tiras, das mais de 500 que existiam à época. Quem primeiro falou do livro, dois anos depois, foi o alagoano Marcus Ramone, que comprou “Na Tigela com Jarbas” para sua filhinha, em 2004, e acaba escrevendo um “review” sobre o personagem, no site Universo HQ (a matéria é esta) uma vez que nunca houve um “view” sobre Jarbas. “Na Tigela” foi indicado ao Troféu HQ Mix 2003, na categoria de Melhor Lançamento Infantil. Não havia a categoria “Livro de Tiras”, naqueles tempos.

Jarbas: vendo o mundo sob as mesas e cadeiras

Desta forma, Jarbas chega a outras áreas, como a educacional, primordialmente. Ao ser escalado para ilustrar livros didáticos dos professores brasileiros da CAPES no Timor-Leste, o personagem acaba servindo para um encontro de países lusófonos via os quadrinhos. Depois foi a página do “Jornal da Tarde”, em 2006, quando o vôo do 14-Bis, de Santos-Dumont, completava 100 anos. Esta página era um acordo entre o periódico paulistano e o NCE (Núcleo de Comunicação e Expressão) da USP, coordenado pelo Prof. Ismar de Oliveira Soares. Os contatos eram, na realidade, a professora Carmen Gattás e a jornalista Maria Rehder (do JT). Em seguida, tiras especiais do personagem foram desenhadas para o tablóide colorido da ONG Reciclázaro, para repensar o meio ambiente. Jarbas ajudava outros amiguinhos cães a cuidarem da cidade e de seu quintal.

Jarbasfest: o vídeo, com narração de Débora Aoni

Quando completou 18 anos, em 2007, foi realizada uma festa, a Jarbasfest, na Pizzaria Prestíssimo, típico ambiente de reunião dos cartunistas (aos finais de ano), com a presença de gente de jornalismo, música, quadrinhos e teatro. No comando musical estavam o maestro Gerson Grünblatt e a atriz-cantora Carolina Mesquita. No telão, um vídeo (acima) sobre o personagem, narrado pela atriz Débora Aoni. Na platéia, circulavam a Profa. Sonia Luyten, o cartunista JAL, a cantora mineira Juliana Castanheira, a atriz Viviane Figueiredo, a escritora carioca Eliane Ganem, o diretor Carlinhos de Moraes e seu maravilhoso elenco das Musas da Garoa, além de Myla, Carlos Morgani, Sergio Morettini e vários outros. Foi uma festa musical e canina.

material publicado em suplemento especial do JT, em 2007: a favor da leitura

Afinal, Jarbas chega aos 20 anos de idade, tendo dado a volta ao mundo, sendo publicado durante 12 anos em edições distribuídas nacionalmente em bancas de revista, algumas pessoas aqui ou ali, muito pontuais, lembrando dele, como um cão com uma idéia na cabeça sobre o mundo dos humanos... E, claro, um osso na tigela. Como manda o figurino. Como diz o cartunista e dono da Livraria HQ Mix, Gualberto Costa, "longa vida ao Jarbas". Que assim seja.
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(Ruy Jobim Neto)